oliveira da eurídice

oliveira da eurídice

Tuesday, November 30, 2010

PORQUE ÀS VEZES É PRECISO SAIR DA FENOMENOLOGIA 



porque os quatro quadradinhos 
de metafísica que como 
por dia nem sempre me são suficientes


porque também não sou nada, 
quando até queria ser alguma coisa

e porque é a única coisa que faz
minha oliveira sorrir quando 
está a chover e o frio lhe 
queima as folhas.





"Num meio dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem


E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.


Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!


Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três,
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz


E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz no braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras nos burros,
Rouba as frutas dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.


A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.


Diz-me muito mal de Deus,
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia,
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.


Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que as criou, do que duvido" -
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
mas os seres não cantam nada,
se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres".
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.


(...)"

Alberto Caeiro, o guardador de rebanhos 



Wednesday, November 03, 2010

INÊS PEREIRA


A Inês falou, há dias, pela primeira vez.
Disse
- Não!

Para grande mágoa minha, não presenciei o acontecimento. Foi por alturas da penúltima grande chuvada de Domingo à noite. Esticou o tronco pequenino, encarou os céus (ou a varanda da vizinha de cima, dependendo da perspectiva) e gritou a plenos pulmões
- Não!


Estarrecidas, a Aurora e a oliveira (contou-me a Violeta, que viu tudo de debaixo do toldo) desenrolaram os ramos que as protegiam do dilúvio e exclamaram
- A Inês falou!
- Não lhe chames Inês, que a rapariga ainda não foi baptizada. Não vês que é aziago?
- Não sejas tonta, Aurora. Se falou, vai viver, isso é certo! Que emoção, a nossa Inês Pereira a falar para se ouvir.
- Faz como entenderes. Eu não lhe chamo nada até a eurídice chegar e baptizar a criatura. Para mim, continua a ser a nespereira, tout court.
- Inês Pereira, a nespereira! Será que já sabe ler? As nespereiras têm fama de ser muito espertas...
- A Criação do Mundo, parece-te bem? - sugeriu a Aurora. - Vou pedir ao Artaxerxes que o traga quando parar de chover.
- Perfeito. Mas por que será que disse "não"? Estará zangada?
- Se calhar não gosta de chuva.
- Eu também não gosto muito, mas agora não há grande coisa a fazer. Estamos no Outono, ainda há-de chover muito - observou, muito bem observado, a oliveira.

- Não! - gritou, de novo, a nespereira Inês Pereira.

Não conseguiram arrancar-lhe mais nenhuma palavra para além do convicto advérbio de negação e decidiram que a nova árvore, que tão heroicamente aguentou enxurrada após enxurrada (provenientes quer do regador quer do céu), é do contra. Certo é que hoje, com a janela aberta e a televisão ligada nas notícias sobre o orçamento, voltei a ouvir "não" vindo do quintal, mais tímido e em tom de queixume.

São tempos difíceis para uma nespereira, uma Inês Pereira, vir ao mundo. Se é do contra, não sei (se for, terá a quem sair); mas que é bonita e forte a minha árvore, isso é.

Sunday, September 26, 2010

TAUROMAQUIAS

disse-me o anjinho

Tuesday, September 21, 2010

ELE HÁ DIAS

eu sou a pinguim da pastinha. 










em que uma pessoa lá vai. Acorda e lá vai. Onde vai, nem a própria sabe.
Põe uma fruta e um iogurte na mala, agarra nas resmas de papel que a perseguem para onde quer que vá (até porque é ela quem insiste andar com o estaminé para trás e para a frente), diz até já à oliveira, suplica à Aurora que não tente voltar a sair do vaso (ainda se ela apanhasse a terra que espalha no processo...), sussurra às proto-nespereiras que vai correr tudo bem, que agora está encoberto mas que o céu vai abrir não tarda, deixa as bolachas-maria ao pé do teodoro, e lá vai.

E neste ir - lá -  que demora, uma atroz e inexpugnável sensação de inércia apodera-se da nossa ida. Mas lá vamos, tentando não pensar muito nem no lá nem na ida.

E depois de ir, atravessa-me o fui: "E se a Aurora for até ao fundo do quintal e não conseguir voltar? E a Violeta, que foi ver a prima ao 54. Ando preocupada com ela. O quintal cheio de mosquitos e a criatura nem lhes toca. Será que perdeu o apetite? Estará doente? Será que pus água suficiente no prato da oliveira? Tenho de comprar um vaso para as nespereiras, que elas crescem a olhos vistos e precisam de espaço."

Quando regresso, já é tarde e o quintal dorme. A oliveira dorme pouco, conta-me como foi o dia, diz-me que aquela terra toda espalhada não foi a Autora, que ela hoje até ficou no vaso a desenhar bigodes nas noivas do catálogo de vestidos de noiva que vem anunciado no jornal que deixaste debaixo do vaso das nespereiras. Pergunto-lhe pela Violeta, se sabe d'alguma coisa...
- Anda um bocadinho em baixo. O sargento faria anos amanhã. Não sei quantos, ela não disse.

Tiro-lhe umas folhas secas dos ramos mais altos, ela agradece; pergunto-lhe se quer alguma coisa para ler e responde que não é preciso, que ainda não acabou o Benito Prada. 


- Quando tens férias outra vez? - perguntou, baixinho, para não acordar a Aurora.

Friday, September 03, 2010

A EURÍDICE FOI CORRER

e foi isto que contou


Monday, August 23, 2010

A OLIVEIRA ESTÁ A LER












"Quando o Padeiro Velho de Casdemundo teve a certeza de que Manolo Cabra lhe desfeitara a irmã, em dois segundos decidiu tudo. Nessa mesma noite matou-o de emboscada, arrastou o cadáver para o palheiro e foi acender o forno com umas vides que comprara para as empanadas da festa de San Bartolomé.

O irmão do meio encarregou-se de cortar a cabeça ao morto. O Padeiro Velho amanhou-o e depois chamuscou-o bem chamuscado. Às duas da manhã untou o Cabra de alto a baixo com o tempero, enfiando-lhe um espeto pelas nalgas. Às cinco estava assado.

"Caramba", disse o irmão do meio, que admirava todas as invenções do mais velho, "é à segoviana!"

"Mas não lhe pões o dente", cortou o outro.

Entretanto o mais novo, regressado já do Pereiro, aonde fora avisar o Padre Mestre, manifestou desejos de capar Manolo Cabra. O do meio olhou muito sério para o Padeiro Velho. Este cuspiu enojado e decretou:

"É tudo para os cães. E agora tragam-me lá a roupa do fiel defunto, que já não tem préstimo senão no inferno."

Se perguntassem ao Padeiro Velho o que mais queria naquele momento, teria respondido:

"Assar-lhe até a memória.""


Trabalhos e Paixões de Benito Prada, de Fernando Assis Pacheco
O VERÃO NO QUINTAL DA EURÍDICE

Entro no quintal e dou com o Artxerxes muito afoito no meio dos vasos



Plantou nespereiras. Aliás, não as plantou propriamente... Ajeitou os caroços de nêsperas que eu pusera no vaso, a ver se vingava alguma, mas ele diz que se não fosse ele, as desgraçadas nunca teriam sobrevivido. Falou com elas, ajeitou-lhes a terra, arrastou-as para o sol e para a sombra consoante a intensidade do sol e regou-as (como não consegue abrir a água, abanava a oliveira e a laranjeira de maneira a que os pingos retidos nas olhas destas caíssem para o vaso das nespereiras).

Organizou-se com a Clotilde e a Conceição para que os mosquitos não enguiçassem as pequenas e leu-lhes os últimos três livros das Histórias do Heródoto, para as inspirar a grandes feitos. Ou pelo menos a grandes nêsperas, no futuro.

A oliveira da eurídice deixou-lhe As Aventuras do João Sem Medo junto do prato da água e a Aurora está a fazer uma lista de coisas importantes que não pode esquecer-se de lhes ensinar quando elas crescerem.

- E como se chamam? - perguntei, entusiasmada.
- Ainda não têm nome. Enquanto não tiverem um tronco suficientemente forte para aguentar as enxurradas de água que nos mandas uma vez por semana, convencida de que não nos dói nada e de que uma rega por semana é suficiente, não arriscamos a dar-lhes nomes. Este quintal está para as árvores como a idade média para a mortandade infantil.

Saturday, July 10, 2010


REVOLTA OLIVEIRENSE







Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

por Manuel Bandeira

Wednesday, July 07, 2010

IMIGRAÇÃO - PARTE II

Esperam que haja tempo para quê? Intrigada e em bicos de pés, aproximei-me da janela (fechadinha, que já cá ando há uns anos para saber como é) para ouvir melhor a conversa e tentar perceber o que se passava naquele quintal. Dou um passo atrás (ainda estou dentro de casa e à janela, mas instintos não se contrariam) ao ver ambas as fugitivas trepar parede acima; reparo, então, no bojo de cada uma e apercebo-me de que aquilo não é barriga de mosquitos. E apiedei-me das moças, de esperanças (osgas bebés não deixam de ser bebés), a arrastarem os ventres pelo musgo das paredes, encharcadas e assustadas.

- Clotilde! Conceição! Voltem que ela já se foi embora - pedia a Aurora.
- É impressionante, palavra d'honra - indignou-se a Violeta, que chegava com as malas às costas. Raça das catraias, que lá tirando os livros não sabem fazer mais nada. Mando-vos eu as minhas primas da terra para abrigarem durante uns dias e nem isso conseguem. E agora, como é que é? Hein? Não dizem nada? Estão as três a tremer de medo cada uma para seu lado. Vim eu a correr da outra ponta da rua, até mandei o Idalécio Pombo avisar que não demorava, para aguentarem um bocadinho, e depois chego e é isto?
- Oh Dona Violeta, a culpa não foi nossa. A eurídice não vinha cá fora há tanto tempo, não imaginávamos que hoje lhe desse para isso. E o Artaxerxes também tinha dito que a distraía e nada. Foi só chegar o afinador do Teodoro e esqueceu-se logo de tudo - argumentou a Aurora, com os ramos baixos.
- Bem, agora temos de ver como é que vamos resolver isto. Vou buscar as primas lá acima e já conversamos.

Abri a janela (uma nesga, só) e perguntei à oliveira:

- De onde saíram aquelas duas criaturas, oliveira? Por que não me disseste nada?
-Já sabia que não ias gostar, por isso não valia a pena contar-te. Ias dizer que não, que isto não é a Santa Casa e que só há espaço para uma osga neste quintal. E elas tinham de ficar na rua ou clandestinas noutro quintal qualquer. Não me pareceu correcto e decidimos não te dizer nada.
- De onde é que elas vêm?
- De longe. Olha, são conterrâneas do senhor dos Bichos. Parece que andavam as duas enamoradas do mesmo sardão, vê lá tu. E não sabiam uma da outra! Quando descobriram, já era tarde e ele deu à sola com a viola às costas. Os pais correram com elas de casa e então vieram para aqui, onde sabiam que estava a prima Violeta. Não te zangues com elas. Zanga-te comigo, mas deixa-as ficar, que não têm para onde ir. Além disso, já viste o estado em que estão. É crime pô-las na rua.

Não é que não me tenha ocorrido tal pensamento, e outros piores, por entre arrepios contínuos, mas não podia ser eu a agravar a desgraça destas criaturas. Chegou a Violeta com as duas primas seguindo atrás dela e parou atrás da Aurora, a olhar para mim. Da janela e ainda muito desconfortável com toda a situação, disse:

- Clotilde Conceição, prazer em conhecê-las. Perdoem-me a reacção de há pouco, apanharam-me de surpresa e não consegui evitar. Eu sou a Eurídice e este é o meu quintal. Sejam bem-vindas. Esta é a Aurora e esta a minha oliveira, que já conhecem. Podem ficar onde vos aprouver, desde que não entrem para dentro de casa. Há água e mosquitos com fartura, às vezes aparecem aí besouros. Disponham. Não aceito convites para amadrinhar os pequenotes, mas ensino-os a ler quando chegar a altura. Se precisarem de alguma coisa, falem com a Violeta, que já cá está há muitos anos e sabe as regras da casa.

- A gente não quer dar trabalho, menina - interrompeu a Clotilde.
- Não dão trabalho nenhum. Ficamos assim entendidas e estou certa de que nos daremos todas bem. E agora, se me dão licença, vou lá dentro vasculhar os cantos todos à casa e arredar os móveis todos, não vá eu dar com mais primas desterradas pelos quartos - respondi.

Pardais, caracóis, caraoletas, bichos da seda. De entre toda a bicharada que um quintal pode ter, calha-me uma família de osgas excomungadas e prenhes.

Vou ser tia.
IMIGRAÇÃO

- Xiu, ela vem aí!

Hesitei antes de entrar no quintal. Sei que andam de segredos e a congeminar uma rebelião porque não só não as tenho regado todos os dias como há semanas que não há bolachas maria torradas. O Artaxerexes anda insatisfeito e a Violeta inquieta. A Dona Paciência não tem colaborado com as árvores na sua função de fornecedora de Camus e Sartres, por medo que elas os estraguem ("São edições muito caras, menina eurídice, elas não têm noção!") e a morte das duas baratas anciãs no espaço de uma semana às mãos de um misterioso assassino - estavam moribundas, caramba! No meu chão da cozinha... - exaltou ainda mais os ânimos.

Para rematar este quadro de desconfiança e mau-estar geral, o Manjerico Segundo morreu, enfim, após longa e heróica luta contra pratos de água inadequadamente fundos, assimétricos e sem água.

Entrei no quintal a rogar perdão enquanto pegava no regador e o enchia de água. Estranhei o silêncio generalizado mas continuei a desenrolar justificações e a afastar a horda de mosquitos que invadiu repentinamente o quintal.

- Tantos mosquitos! A Dona Violeta não tem estado cá?
- Tirou férias esta semana. Foi até ao 54 ver a prima, mas deve voltar hoje à noite - respondeu a Aurora.

E é então que vejo algo cair redondo no chão, de um vaso, e começar a subir a parede. Recuo, em pânico, perante uma das maiores osgas que vi em dias da minha vida.

- Desculpa, Clotilde! - gritou a Aurora
Olho para a Aurora, petrificada. A traição! E cai outra osga do vaso da minha oliveira.

- Corre, Conceição! - gritava a oliveira. Larguei o regador, que tombou sobre a nespereira-há-de-ser-se-deus-quiser-não-lhe-vou-dar-nome-enquanto-não-tiver-pelo-menos-dois-palmos-de-existência e corri para fora do quintal.

Oh ignomínia! Traída pela minha prole.

- Não sabias segurar a Conceição um bocadinho melhor?
- A Clotilde caiu primeiro e a Conceição assustou-se. Que querias que fizesse? Elas estão nervosas, é natural. Espero que ainda haja tempo - sussurou a oliveira.

Fiquei a vê-las tremer da janela da sala.

Wednesday, June 30, 2010











YOU'RE NOT TORMENTED OR INSANE, YOU'RE JUST AN OLIVE TREE



Vincent Malloy is seven years old
He’s always polite and does what he’s told
For a boy his age, he’s considerate and nice
But he wants to be just like Vincent Price

He doesn’t mind living with his sister, dog and cats
Though he’d rather share a home with spiders and bats
There he could reflect on the horrors he’s invented
And wander dark hallways, alone and tormented

Vincent is nice when his aunt comes to see him
But imagines dipping her in wax for his wax museum
He likes to experiment on his dog Abercrombie
In the hopes of creating a horrible zombie

So he and his horrible zombie dog
Could go searching for victims in the London fog
His thoughts, though, aren’t only of ghoulish crimes
He likes to paint and read to pass some of the times

While other kids read books like Go, Jane, Go!
Vincent’s favourite author is Edgar Allen Poe
One night, while reading a gruesome tale
He read a passage that made him turn pale

Such horrible news he could not survive
For his beautiful wife had been buried alive!
He dug out her grave to make sure she was dead
Unaware that her grave was his mother’s flower bed

His mother sent Vincent off to his room
He knew he’d been banished to the tower of doom
Where he was sentenced to spend the rest of his life
Alone with the portrait of his beautiful wife

While alone and insane encased in his tomb
Vincent’s mother burst suddenly into the room
She said: “If you want to, you can go out and play
It’s sunny outside, and a beautiful day”

Vincent tried to talk, but he just couldn’t speak
The years of isolation had made him quite weak
So he took out some paper and scrawled with a pen:
“I am possessed by this house, and can never leave it again”

His mother said: “You’re not possessed, and you’re not almost dead
These games that you play are all in your head
You’re not Vincent Price, you’re Vincent Malloy
You’re not tormented or insane, you’re just a young boy
You’re seven years old and you are my son
I want you to get outside and have some real fun.
”Her anger now spent, she walked out through the hall
And while Vincent backed slowly against the wall

The room started to swell, to shiver and creak
His horrid insanity had reached its peak
He saw Abercrombie, his zombie slave
And heard his wife call from beyond the grave

She spoke from her coffin and made ghoulish demands
While, through cracking walls, reached skeleton hands
Every horror in his life that had crept through his dreams
Swept his mad laughter to terrified screams!

To escape the madness, he reached for the door
But fell limp and lifeless down on the floor
His voice was soft and very slow

As he quoted The Raven from Edgar Allen Poe:
“and my soul from out that shadow
that lies floating on the floor
shall be lifted?
Nevermore…”




Tinha a eurídice da oliveira 10 anos quando decorou o poema de trás para a frente. Esse e o do Pinguim, pata aqui, pata ali, até parece um homenzinho. 
Muito bem lembrado nesta casa

Tuesday, June 01, 2010

NO VALE DA IMAGINAÇÃO


encontrei parente afastado, 
e igualmente rezingão, 
do Senhor Sapo.


Perguntei-lhe se por acaso não conheceria o sapo cuja fotografia eu segurava na mão.
De imediato me disse que, infelizmente, conhecia e bem, que em pequenos tinham brincado no quintal de um senhor muito rico e poderoso da Capadócia, quando ainda fazia parte do Império Persa.  
- Acho que se chamava Artaxerxes, mas olhe, menina, não lhe posso dar certezas, porque depois meteu-se a guerra e o senhor desapareceu num repente. Dizem que abalou à procura da irmã, que andava metida num belo sarilho com uns senhores que tinham camelos.
- Estou a ver. Foram tempos complicados para estes lados.
- Ui, menina, nem queira saber. Mas diga lá: de onde conhece o primo Antão?
- Antão? 
- Sim, o primo Antão, que tem aí na fotografia! 
- Vive em minha casa, na estante dos discos. 


O mundo é um penico.



Tuesday, May 25, 2010

SEM MEDO


disse-me a oliveira.


- Mas não é um blogue político, oliveira. Já sabes depois como é, as pessoas falam, dizem coisas, não compreendem, ficas triste.
- Isso é problema meu. Além disso, tudo é política hoje em dia e eu não tenho medo de ninguém e defendo os meus ideais e luto por aquilo que acho justo e contra o que é injusto e este é o meu quintal e o meu blogue e já quase não choro quando leio os bichos do Torga. E se pusesses o computador aqui à janela nem precisava de te pedir isto. 
- Só estou a tentar explicar-te que já cá ando há mais tempo que tu e sei do que falo. Não quero ver-te triste e...
- Então não tenhas medo que eu também não.





On sera pas completement hypochrites.

Thursday, May 20, 2010

A OLIVEIRA ESTÁ A LER



" Eu não sou um marginal, porra.
          Sou um senhor."


"- E agora, Luiz?
 - Isto está visto. Isto está visto.
 - E valeu a pena?
 - Se valeu a pena?!... O que é que eu posso dizer a isso?...Foi como foi."


E recomenda.

Wednesday, May 19, 2010

NESTE QUINTAL

- ... neste mesmo quintal onde estão agora, já houve galinhas. E coelhos. Mas esta história é com galinhas.

Noites quentes são boas para passar o serão na palheta com a minha oliveira. Ia explicar-lhe a teoria da relatividade, levava um pacote de bolachas maria torrada e um balde com água fresquinha, uma limonada para mim... e oiço vozes, uma grande galhofa na verdade.








- Não havia coelhos nenhuns! - dizia o Sapo
- Como eu estava a dizer, senhor Sapo, esta história é com galinhas. Com uma galinha em particular - continuou a Dona Violeta.
- Galinhas havia, lá isso é verdade. 

Aqui decidi pousar o balde com água. Começava a pesar e a história prometia. Puxei um banco e fiquei à janela.

- Estávamos em mil nove e cinquentas, vivia aqui uma senhora com o Anjinho. Era a Dona Emília. Pelava-me de medo dela, que não tinha medo de nada nem de ninguém e tinha como única preocupação o Anjinho. Nunca me aproximei do Anjinho, como calculam; havia vassouras e a senhora era de um porte respeitável.

A Dona Violeta parou uns segundos com um tique nervoso no olho enquanto repetia "vassouras" entredentes. Respirou fundo e retomou a história:

- Para além do Anjinho, tinha grande adoração pela galinha de estimação, que estava na capoeira grande, ao canto. E um dia, a galinha adoeceu. Não punha ovos, andava acabrunhada, meio cá meio lá. A Dona Emília decidiu então fazer o que se fazia sempre que alguém cá em casa ficava doente - telefonar ao Gualter.
- O da Rua Sésamo? 
- Ó criatura, mas quem és tu? Aí empoleirada na Aurora, olha que ainda cais, que ela não anda bem. 
- Eu sou a boneca de pano da eurídice. Estava muito frio lá dentro e o Artaxerxes convidou-me para o quintal.
- O Senhor Artaxerxes também não pode ver um rabo de saias, não é? - replicou a Dona Paciência de dentro
- E a Dona Paciência sempre é muito quadrilheira.

 - Não, não era o Gualter da Rua Sésamo, que modernices mais tontas. Esse era um boneco, filha, não era a sério. Esta juventude, palavra que não sei o que andam a aprender na escola - respondeu, indignadíssima, a Dona Violeta.
- Julguei...
- Julgou mal. Mas continuando: a galinha ficou doente e sem galinha é que a Dona Emília não ficava, que esta dava uns ovos que eram uma maravilha. Telefonou-se para o Gualter, que era médico e já tinha tratado o Anjinho, e o Gualter percebe que a galinha tinha de ser operada. A Dona Emília arregaça as mangas, esteriliza uma navalha, emborracha o bicho (e o quintal inteiro, na verdade. Foi uma noite tão animada!) e, ao telefone com o Gualter que lhe ia dando indicações, abre a galinha pelo bucho com precisão cirúrgica e extirpa-lhe o mal.
- A Dona Emília operou a galinha?! 
- Sozinha?
- Não acredito!
- Pois acreditem, pequenada, que é bem verdade. Apesar de meio zonza, vi tudo pelo vidro da porta da cozinha. A minha mãezinha, que Deus a tenha em paz e sossego, dizia-me que nunca tinha visto tal coisa e finou-se pouco depois, acho que de pasmo.

- Ó Dona Violeta - dizia a oliveira - tem mesmo a certeza que isso foi assim que se passou? A eurídice nunca me contou nada e ela conta-me sempre tudo.
- Filha, vi eu, com estes dois que a terra há-de comer! Ia agora enganar-te?! Se não te contou é porque não sabe, ora! Além disso, era o Anjinho ainda pequenino. Eu cá não o achava Anjinho nenhum. Diabo Negro era o que ela era, a espantar-me o almoço todos os dias aqui a correr de um lado para o outro. Não havia mosca que assentasse.

- Então e a galinha? - pergunta a boneca de trapos da eurídice empoleirada na Aurora.
- A galinha, pois que sobreviveu. A Dona Emília coseu-a e pô-la a convalescer debaixo da chaminé (isto está muito mudado, já não há chaminé nenhuma, é uma pena), acordou da delicadíssima intervenção cirúrgica e ainda pôs ovos durante um ror de anos - concluiu a Dona Violeta.
- Impressionante! - espantava-se a minha oliveira.
- Uma grande mulher, a Dona Emília - lembrou a Dona Violeta. - Uma grande mulher! Ainda lhe guardo saudade, apesar de tudo.

Ali ficaram mais um bocadinho e, quando me levantava para ir à minha vida, ouvi perguntar:

- E essa galinha, onde andará? Nunca a vi por aqui.
- O Anjinho sempre gostou muito de canja...  - rematou a osga.




Sunday, April 25, 2010

AS FORMIGAS

um carreiro delas, do muro até à minha oliveira. 
Comentámos que a coincidência tinha tanto de feliz como de triste, porque apesar de ter sido a música que acordámos a cantar (é um quintal alegre), nenhuma de nós gosta muito de formigas. 


Por mim, deixávamo-las estar quietinhas, que depressa iriam chatear para outra freguesia, mas a oliveira foi tenaz na sua aversão e mandou chamar as tropas.


Não será muito democrático e até a repreendi. Um bocadinho, só.
A aranha dos últimos ramos entoou 


e a formiga que se escondeu atrás do vaso da Aurora, cantava triste, hoje ao fim da tarde, 


Devia ter ficado caladinha, foi sobremesa.

Monday, April 12, 2010

PELA MANHÃ


veio a Aurora.
Orfã de pai e mãe, acolhia-a no meu quintal. Dizem-me que é de boas famílias, mas que era muito "rebiteza" e que se recusava a fazer o que lhe diziam na estufa. Acabava por desinquietar as outras árvores todas e, apesar de bonita e de fazer muita vista, não podiam continuar a responsabilizar-se por ela. Temiam o pior, ameaçava até não dar flores este ano se não a mudassem para o corredor das nespereiras. ("Porque as nespereiras não são umas tontas, como outras, sempre atrás de uma noiva ainda mais tonta para lhe enfeitar a grinalda").
É uma laranjeira e agora é minha. Chama-se Aurora e é, de facto, muito rebiteza. Não gosta de casamentos e não adorou a vizinhança das couves, mas encantou-se com o vaso de barro da oliveira, com o prato por baixo.


- Que maravilha, um prato por baixo do vaso. Para que serve?
- Para a Violeta, a minha inquilina, que é uma osga.
- O que é uma osga?






Vim-me embora, antes que a oliveira a chamasse.

Monday, April 05, 2010

DA IMPERFEIÇÃO DOS VASOS
(e outros recipientes)


- Soube que o teu vaso fez anos. Quando pensa trocá-lo?
- Trocar de vaso? Não estava a pensar fazer tal coisa, mas por que perguntas? Não te parece bem o que tenho agora?
- Não me parece mal, por agora. Mas daqui a uns tempos esse há-de ficar pequenino, ou não?
- Já tenho este vaso há algum tempo, oliveira. Bem estimado ainda dura uns anos. E eu não vou crescer mais.
- Se o estimasses bem, a conversa era outra. E como não vais crescer mais? Então para que são esses livros todos? 
- Decoração, essencialmente.
- Realmente está bonita, a casa. Mas vais trocar o meu vaso, não vais?




Este Verão, a oliveira da eurídice muda de vaso. E a eurídice vai ter mais cuidado com o vaso dela, que também se parte. 

Saturday, March 20, 2010

ESTAVA AQUI A FALAR COM A VIOLETA


- Violeta?
- Sim, a osga que mora aqui debaixo do prato da água.
- Chama-se Violeta? Nao sabia que lhes davas nomes.
- Não lhe dei nome nenhum, é o nome dela. Olha que ela lembra-se bem de ti, todos os dias no quintal a mandar bolas à parede. Ainda tentou falar com A Menina Que Tu És E Que Tu Serás, mas sempre que a via, a senhora empunhava a vassoura e perseguia-a quintal fora. Desgraçada da criatura não sabia onde havia de se enfiar para ter um bocadinho de paz e fazer a tese - onde acabou por ter nota máxima com louvor e distinção, não que tenhas contribuído alguma coisa para isso.










- E sobre o que era a tese?
- Adopção de répteis e consequências socio-políticas da sua integração em quintais hostis.
- O meu quintal não é hostil!
- Agora não é. Mais ou menos. Podia ser melhor. A Violeta diz-me que isto não são condições de trabalho apropriadas a nenhuma espécie arbórea e que devia tomar conta dos meios de produção e tomar as instalações de assalto. A bem dos trabalhadores e da justiça social. 
- Mas tu não trabalhas, oliveira. Vamos lá a ver onde se meteu essa Dona Violeta, para falarmos sobre umas coisas.
- Está na hora de almoço. Diz no contrato que tem direito a uma hora de almoço. Sabes como é que ela te chama?
- Não sei, mas imagino. 
- Ela quer um vaso maior. Aliás, um prato maior.
- Desconfio que não há Dona Violeta nenhuma.
- Palavra que existe, eurídice. A hora de almoço dela deve estar a acabar, podes pergunta-lhe tu. Ali vem ela, a descer o muro.




E corri, como não corria desde os meus 6 anos. 



Saturday, March 06, 2010

MITOLOGIAS


Em cada divisão por que passávamos, o silêncio. 
Mudos e quedos - que nem os penedos - o Sapo e a Maria Paciência, que já se tinham manifestado contra a vinda do Teodoro assim sem terem sido tidos nem achados, fulminaram-me com o olhar.


- Artaxerxes... Que nome mais tolo! Deve saber muito de pianos, deve. E aquela roupa, que coisa mais disparatada. Achará por acaso que vai tomar o mundo a partir do quintal da eurídice? O meu pai conheceu o pai dele e disse sempre que aquilo não era boa gente. Andou por aí a tomar terras sem rei nem roque. E terras boas. 




- E a mão maior que a outra, Dona Paciência, já viu aquilo? É que é uma diferença grande, não sei se reparou


- Então não reparei. Parecia sei lá o quê...


Foi a oliveira que os ouviu, de manhã. 
O PROFESSOR DE PIANO 

Fui dizer bom dia à oliveira, saber se ainda se tinha no vaso e se estava melhor do ramo esquerdo, o mais pequenino e frágil, onde um melro de proporções épicas decidiu postar-se a debicar-lhe os insectos inquilinos

e dou com isto.
















- Quem é este senhor, oliveira?


- É o Artaxerxes. Veio ver o piano e ensinar-nos a tocar. Tens bolachas Maria, daquelas torradas? Diz que gosta muito e levou a noite toda a pedir-me bolachas Maria torradas. 


- Passou aqui a noite? Mas de onde veio o senhor Artaxerxes e como soube ele do piano? 


- Não sei, não lhe perguntei. Mas tem uma irmã em Marrocos e uma mão maior que a outra. Acho que é a direita que é maior que a esquerda. E o melro não voltou, parece que ele e o Artaxerxes já se conheciam, e abalou para o outro lado do muro. 


...


- Bom dia, minha senhora. Vamos ver esse piano?
- Chama-se Teodoro. Venha.

Thursday, February 25, 2010

NÃO DESCANSOU

enquanto não lhe fiz a vontade.
Decorou o texto e não se cala com isto.



E já disse ao Anjinho que não se preocupasse, que desconfia que a eurídice nunca vai chegar a directora geral de coisa nenhuma.
E queria ser o "xé" a meio do vídeo, tão finamente metido.


OLIVEIRA, O QUE ME DIZES DESTE TEMPO?

perguntei-lhe da porta, a medo e cheia de cuidado para não me molhar.

Ela respondeu citando o recém-achado (porque também já lá estava antes da oliveira ser da Eurídice) Fernando Assis Pacheco:

- Se falares com o S. Pedro este fim de semana, diz a esse senhor que é isto que eu penso da gerência pluvial deste ano:













Oliveira da Eurídice dixit, com a ajuda preciosa do nosso poeta amigo de serviço
A OLIVEIRA DA EURÍDICE ENCONTROU...


















... o espírito da sua eurídice.
E perguntou-me

- Importas-te que o diga no blog? Que toda a gente fique a saber que és assim, de gancho, no fundo...

Respondi que o blog era dela e que ali dizia o que lhe apetecesse. Mas que citasse, que o trabalho científico é bonito e cai sempre bem.

Portanto cá vai: obrigada Trama pelo achamento desta senhora (porque, tal como o Brasil, a dita senhora já lá estava antes de ser descoberta).

Saturday, February 13, 2010





Proibida a entrada a quem não estiver espantado de existir






E lá foi a minha oliveira.

Monday, February 08, 2010

ISTAMBUL

"Em todo o decurso da minha vida, o sentimento de ruína do Império Otomano e da tristeza pela miséria dos escombros que cobriam a cidade representaram os elementos característicos de Istambul. Passei a vida a lutar contra essa tristeza, ou então -- como acontece com todos os habitantes de Istambul -, a tentar aproximar-me dela." Istambul, Pamuk


A oliveira gosta de grandiosidades perdidas. Sente-se em casa, assim. Disse-me que tinha pena de não poder ir comigo, porque ainda é pequenina para andar de avião e porque não quer tirar o BI (andou a ler umas coisas...), mas eu já lhe disse que um dia vai crescer e o vento há-de encarregar-se do assunto.

Entretanto, é bom que ela e o mamute lanzudo se entendam, porque vão cá ficar uns dias a tomar conta um do outro (o iaque felpudo fez birra e vai comigo).

Sunday, February 07, 2010

A OLIVEIRA DA EURÍDICE VIU ISTO














e subscreve. Mas não sem medo de represálias...

Wednesday, February 03, 2010

A MINHA OLIVEIRA É UMA EXAGERADA



Somos as duas, na verdade.

Wednesday, January 20, 2010

"Não tinhas dito que ias comprar muito menos roupa em 2010?", perguntou-me. "E que ias acordar bem disposta todos os dias?"

Nunca mais lhe conto nada. Ainda por cima apanhei-a ontem a esconder O Estrangeiro debaixo do vaso, quando cheguei. "Vou ler menos franceses...". Pois, 'tá bem. Quero vê-la a cobrar-me resoluções de ano novo quando acabar de ler o menino Camus e precisar de um chá de camomila e uma anedota para adormecer.

Nem me ajudou com os sacos.

Sunday, January 10, 2010

DEIXOU-SE DE FRANCESES, MAS ARREPENDEU-SE LOGO

"(...) gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstrui-se-me sem ideal nem esperança
(...)"

A minha oliveira pediu-me a TABACARIA plastificada e uma garrafinha de oxigénio.

Sais ao velhaco do teu pai...

Tuesday, January 05, 2010

EM 2010, A OLIVEIRA DA EURÍDICE VAI

 acordar mais bem disposta todas as manhãs;

 ser mais compreensiva com a infoexclusão do anjinho

 agradecer quando a Menina Que Eu Sou E Que Eu Serei lhe varre a terra à volta do vaso e lhe dá água

 dizer à eurídice que está tudo acabado com as couves da vizinha

 ler menos franceses

 explorar o bocadinho de quintal para lá das bilhas de gás, onde ficam as folhas velhas do tempo em que ali criava a Dona Emília galinhas e coelhos, entre muitas outras alimárias.

 abrigar uma osga debaixo do prato do vaso

Monday, January 04, 2010

12 COISAS DE QUE A MINHA OLIVEIRA NÃO GOSTA


1. água de chuva excessivamente chovida (soube disso há coisa de 2 semanas, quando deixou de conseguir falar comigo porque tudo o que eu conseguia perceber era "glup-glup-glup")
2. o mamute lanzudo
3. terra espalhada fora dos vasos
4. do seu pé-de-feijãosismo
5. da tristeza do anjinho
6. da inquietação da Menina Que Sou Eu E Que Eu Serei
7. vasos pequeninos
8. da aranha que não quer fazer a teia no meu ramo de cima e prefere as folhas secas da palmeira
9. da tradução de latim que a eurídice nunca mais resolve
10. de passar sozinha as noites escuras e frias
11. de passar sozinha os dias escuros e frios
12. de não poder falar com as couves da vizinha de cima porque a eurídice não deixa