oliveira da eurídice

oliveira da eurídice

Thursday, August 25, 2011

Da série Dramas da vida real e casos da vida, tardes da júlia e senhoras que possuem santinhas que choram, utilizam óculos e auferem pensões de miséria - caderno II
também conhecido como
Procrastina, valente - volume LXXVIII


A minha oliveira anunciou há dias o fim da sua não-tão-longa-quanto-isso amizade com a dona Joanilde, a amiga imaginária, escriturária reformada com dois filhos, um que já acabou a faculdade e é director (?!) e outra que é linda como o Sol, casa para o ano.
Não fosse este o segundo comunicado do género nos últimos meses (antes da dona Joanilde tinha sido o senhor Adérito, dono de uma loja de ferragens que escrevia poemas do Ultramar e tinha a mulher na retraite), nem me perguntaria (tão pouco a ela)  razão de tanta desamizade.
Achei por bem tentar ir ao fundo da questão, não fosse a minha oliveira estar a transformar-se num criatura anti-social, abespinhada, solitária (teria a quem sair, coitadinha) e perguntar-lhe, enfim, qual o problema dos amigos imaginários que tem tido, para não querer continuar a ser amiga deles.

- Não consigo acreditar neles.

Wednesday, August 24, 2011

da série estes estavam na gaveta desde a última vez que procrastinei

Os versos que se seguem são de uma finura ímpar. Nunca o estilo rasteirinho esteve tão bem representado e é uma pena, indeed, a censura das primeiras e últimas quadras. Noblesse oblige. Sim, que parecendo que não, ainda há aqui alguma dignidade. Pequenina, mas há.

(...)

Mas veja o leitor ainda
a tristeza maior e intestinal
de receber um email, ó linda,
e não ter como imprimir o original.
De bradar aos céus,
a desonraria que seria,
ter lido o esteiros e o gaibéus
e viver ao pé da mercearia
Não!, que a gente aqui é mais bolos
e não suporta comunistas.
Essa gente que escreve desconsolos
Não os querem os retalhistas!
Até porque, e temos de lhes dar razão,
A esses temos de dar para trás!
“Não se pode abrir as pernas a qualquer rapagão”
Já bem o pregava frei Tomás...
É um mundo muito complicado,
este da edição,
ter de gerir um ego beliscado
pelo punho viscoso da revisão. 
Mas a nossa história 
começa muito antes disto,
no tempo da científica arte divinatória
Quando o dito era o anti-cristo
Publicava Marx, Engels e Nietsczhe
resgatando as massas ao analfabetismo
Dizia-se mesmo que fumava haxixe,
Até ao dia em que chegou o capitalismo.
(...) 

continua, sim, mas o servidor não aguentaria nunca tamanha magnificência literária. 
Homero, Virgílio, Dante, ajoelhai-vos perante a grandeza, o génio, o sol lui-même. Camões vive!, sob a forma de uma oliveira, no meu quintal. Pelo sim pelo não, deixámos de comer vaca aqui no quintal, não vá Vishnu tecê-las e a Aurora encarnar o Raúl Solnado. 

adolescência

Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplastro anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. (M. de Assis in Memórias Póstumas de Brás Cubas)


- Mas se nem gente és, oliveira... 
- Dizes tu. Se não sou gente, que sou eu?
- Uma árvore. Uma oliveira.
- E desde quando falam as árvores?


(...)


- Traz-me lá o emplastro* e vai-te deitar que amanhã trabalhas. 




*o comando da televisão