oliveira da eurídice

oliveira da eurídice

Wednesday, June 19, 2013

De Institutionibus

- Sabes do que me lembrei?
- Diz lá.
- E se eu criasse uma osga em cativeiro.
- ...
- «...» o quê?
- Nada. Só achei que ias dizer alguma coisa interessante.
- Acho que a água do teu prato deve estar estagnada. Não bebas mais que estás a ficar azeda.
- Tu é que estás azeda. E se a água está estagnada é culpa tua, que não me ligas nenhuma.
- Decididamente, tenho de te mudar a água do prato. Mas ouve. Uma osga em cativeiro. Alimentava-a, falava com ela, ensinava-lhe a não vir para o meu lado do quintal, ensinava-a a não ter sempre aquele aspecto peçonhento e ar de quem anda a tramar alguma que elas têm, dava-lhe um nome, até podia fazer-se um baptizado aqui no quintal, podias ser madrinha e
- Calmex! Não sou madrinha de ninguém.
- Então?
- Então nada! Não sabes a responsabilidade que é ser madrinha de alguém? Tenho lá vocação para ser guia espiritual.
- Oh. É só uma osga.
- Se não vais levar isto a sério, não sei porque hás-de fazê-lo. Estás a fazer pouco das instituições.
- Mas não tens de fazer nada, oliveira. Tem calma. Só tens de lhe segurar a cabeça enquanto lhe mando uma mangueirada da outra ponta do quintal...
- Ai sim? É só isso? E quando ela vier perguntar-me qual é o sentido da vida? Ou por que razão tem de comer a sopa toda? Ou por que raio não lhe ligam nenhuma os outros osgos? Ou de onde vem e para onde vai? Achas que é de lhe mandar com uma mangueirada nessas alturas? Ou seguro-lhe só na cabeça enquanto tu o fazes.
- Não sei por que não. Não sei até se não é melhor que estar a contar a verdade.
- Qual verdade?


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